quinta-feira, 30 de julho de 2015

São seis horas... É tarde!


Estou aqui para te libertar, meu doce Chapeleiro.
Esquece a crueldade da Rainha...
Já são seis horas!
Sim, sei que é hora do Chá,
Mas vou te contar um segredo:
Nós podemos tomá-lo em qualquer outro lugar.
Essa mesa está confusa,
E sei que era falta de tempo.
Viver aprisionado em um único momento é um tormento!
Todos os dias viver do passado é deprimente...
Não digo, com isso, que o coelho branco está certo.
Ele também anda estressado!
Viver correndo pro futuro é angustiante,
Essa ânsia ainda há de matá-lo...
Sai dessa triste rotina habitual,
Hoje, nós vamos comemorar o seu Aniversário!
Sim, meu amigo, esse evento acontece uma vez por ano apenas.
De onde vim, neste único dia, celebra-se a vida!
Sei, estamos noutro mundo, mas devemos ponderar,
Ao menos por um segundo,
Que nunca é tarde para mudar!
Por hoje, somente por hoje, façamos o oposto,
Abandonemos nosso desgosto, nossas amarguras,
Nos dispamos dessas terríveis armaduras,
E vamos sair do lugar!
Não precisamos ir longe.
Vem comigo, tomaremos nosso chá!
Sequer sairemos das fronteiras da tua belíssima casa.
Desejo que conheça o jardim bem aqui ao lado.
Respirar outros ares é necessário...
Nem todos são respiráveis!
Segura minha mão...
Nada será em vão!
Terás um novo olhar!
Não, não posso prometer que iremos amanhecer...
Quisera ter esse poder!
Porém, podemos notar outros lados da escuridão,
Vou te mostrar!
O jardim está adormecido,
Senta a meu lado, sente a grama fresca,
Respira a natureza!
Ah, tire seu chapéu.
Sim, é preciso tirar o véu...
Aceita uma gota de chá?
Uma delícia, como sempre!
Sabia que eu nem gosto de Chá?
Teu sorriso me faz bem.
Sente-se melhor?
Claro, eu também!
Agora, permita que o chá faça seu devido efeito.
Enquanto isso, faz dessa nova grama teu leito.
É bom estar ao relento...
Há quanto tempo não tens tempo,
Sequer para deitar, dormir, enfim, sonhar?
Não importa quanto tempo o tempo teve para nos roubar,
Temos o agora!
Sei, Já quis matar o coelho branco também...
Não se preocupe, te entendo perfeitamente!
Ele não tarda a chegar, esbaforido como sempre!
Esquece, permita-se estar comigo.
Que seja breve! Não importa...
Muitas vezes o eterno dura apenas um segundo.
Já parou para observar o céu?
Em meio à escuridão que nos encontramos,
Diz-me: o que consegues observar?
Sim, existem estrelas...
Sabe o que elas significam para mim,
meu afável companheiro?
Elas conversam comigo,
Sim, elas piscam para mim também...
Somos iguais.
Cada vez que apagam e voltam a brilhar, elas nos falam entrementes:
"Sabe essa escuridão que te condena à noite abismal?
Sim, somos todos portadores da mesma cegueira,
Mas ouça e não esqueça,
Onde há treva, também há luz!"
Sim, meu sábio Chapeleiro,
Existe luz para nos salvar.
Como achas que escapamos da morte em nossas inacabáveis noites?
Elas estão lá para nos guiar!
Por favor, não agradeça...
Estou aqui hoje para que jamais me esqueça,
E lembre, para me encontrar, basta encarar o espelho,
Verás meu reflexo e a luz das estrelas!
Sim, vamos comemorar!
Feliz Aniversário, para mim?
Sim, também! Sim, sim!
Brindemos com Chá!
O que usas mesmo para fazê-lo?
Ah, não esquece: Eu nunca te abandonarei, meu amado Chapeleiro!


(Renata Nunes)




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