sexta-feira, 17 de julho de 2015

A poética da Melancolia - Conceituação.

A melancolia é tida como uma forte depressão sentida e intensificada pela dor moral, tendo, como característica, a diminuição psicomotora e a vontade de morte (suicídio).
A causa desse estado de tristeza profunda, segundo Homero, não é conhecida, a mesma está relacionada à culpa e aos atos humanos (“decorrente de um mal obscuro”). Para Homero, a melancolia é imposta pela divindade, ou seja, é sentença a ser cumprida por “alguém” que não tem a escolha de lutar. Assim, entende-se a dor cósmica ou a dor universal sentida por alguns poetas pois não têm como superar algo ordenado por uma força maior que está além de sua vontade, restando-os, apenas, aceitar essa dor devastadora.
Para Hipócrates (em sua teoria dos “humores”), a melancolia é resultado de uma alteração da composição, das reações dos humores e dos tecidos que afetam a bili negra (um dos componentes dos quatro humores presentes no organismo). O excesso da bili negra pode causar diversos tipos de melancolia (dependendo de sua localização e proveniência), causando, portanto, diferentes sintomas.
Além dessas possibilidades, há ainda a melancolia amorosa e a melancolia religiosa, acrescentada por Burton em 1621.
Em Aristóteles, o “humor negro” é a causa da tristeza e inquietação do indivíduo, levando-o, como consequência, a criar; ou seja, a criação surge através da inquietação e tristeza incurável do indivíduo; se torna quase um ciclo vicioso, como alguém que é dependente de álcool ou drogas para se divertir (por exemplo), o poeta necessita estar nesse estado para criar.
As causas desse estado, no entanto, não podem ser diagnosticadas com precisão, já que, em muitos casos, não se sabe de onde vem essa tristeza. Há, portanto, casos para os médicos (para aqueles em que a doença começa no corpo físico e depois afeta a alma) e há, ainda, casos para os “filósofos” ou psicoterapeutas (para os casos em que a alma é primeiramente afetada).
O mal que nos acomete não se encontra nos lugares onde estamos, ele reside em nós. Nós não temos forças para suportar seja o que for; somos incapazes de sofrer, impotentes para usufruir do prazer, impacientes com tudo. Quanta gente, após haver tentado mudar e retornado sempre às mesmas sensações, deseja a morte por não poder sentir nada de novo – e no seio mesmo das delícias gritam: Qual! Sempre a mesma coisa! (VIANA, Chico. P.32).
Portanto, a melancolia não surge irrefutavelmente de uma mesma causa ou da possibilidade referente ou ao exagero ou à medida exata, natural, do humor negro já que existem casos inexplicáveis pela teoria da bili negra, os quais, quando do conhecimento do povo (e segundo suas crenças) se transformam em mistério ou algo sobrenatural.
Então, não se pode ser incontestável quanto às causas desse estado e, uma era exemplar disto é a Romântica, pois, nessa época, a perda das referências de cada indivíduo o leva a eleger o estado melancólico como forma de estar e viver no mundo (não é mais encarada como doença sofrida), ou seja, a tristeza passa a ser uma nostalgia incurável, uma evocação dolorida de um tempo e espaço perdidos, deixando a sensação de um vazio a ser preenchido.

Mas, sendo escolha ou não de vida, seja causada pelo corpo físico ou pela alma, a melancolia (em todos os tempos) é tida como mal incurável. E a incurabilidade só é aceita por quem acredita numa força universal agindo sobre nós, designando, assim, nossos infortúnios. É essa dor sentida, que não pode ser superada que é aceita pelos “nossos poetas” como parte integrante de seus “Eus”.

(Renata Nunes - Melancolia e Morte na poesia de Antero de Quental e Augusto dos Anjos)

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