A
melancolia é tida como uma forte depressão sentida e intensificada pela dor
moral, tendo, como característica, a diminuição psicomotora e a vontade de
morte (suicídio).
A
causa desse estado de tristeza profunda, segundo Homero, não é conhecida, a
mesma está relacionada à culpa e aos atos humanos (“decorrente de um mal
obscuro”). Para Homero, a melancolia é imposta pela divindade, ou seja, é
sentença a ser cumprida por “alguém” que não tem a escolha de lutar. Assim,
entende-se a dor cósmica ou a dor universal sentida por alguns poetas pois não
têm como superar algo ordenado por uma força maior que está além de sua
vontade, restando-os, apenas, aceitar essa dor devastadora.
Para
Hipócrates (em sua teoria dos “humores”), a melancolia é resultado de uma alteração
da composição, das reações dos humores e dos tecidos que afetam a bili negra
(um dos componentes dos quatro humores presentes no organismo). O excesso da
bili negra pode causar diversos tipos de melancolia (dependendo de sua
localização e proveniência), causando, portanto, diferentes sintomas.
Além
dessas possibilidades, há ainda a melancolia amorosa e a melancolia religiosa,
acrescentada por Burton em 1621.
Em
Aristóteles, o “humor negro” é a causa da tristeza e inquietação do indivíduo,
levando-o, como consequência, a criar; ou seja, a criação surge através da
inquietação e tristeza incurável do indivíduo; se torna quase um ciclo vicioso,
como alguém que é dependente de álcool ou drogas para se divertir (por
exemplo), o poeta necessita estar nesse estado para criar.
As causas
desse estado, no entanto, não podem ser diagnosticadas com precisão, já que, em
muitos casos, não se sabe de onde vem essa tristeza. Há, portanto, casos para
os médicos (para aqueles em que a doença começa no corpo físico e depois afeta
a alma) e há, ainda, casos para os “filósofos” ou psicoterapeutas (para os
casos em que a alma é primeiramente afetada).
O mal
que nos acomete não se encontra nos lugares onde estamos, ele reside em nós. Nós
não temos forças para suportar seja o que for; somos incapazes de sofrer,
impotentes para usufruir do prazer, impacientes com tudo. Quanta gente, após
haver tentado mudar e retornado sempre às mesmas sensações, deseja a morte por
não poder sentir nada de novo – e no seio mesmo das delícias gritam: Qual! Sempre
a mesma coisa! (VIANA, Chico. P.32).
Portanto,
a melancolia não surge irrefutavelmente de uma mesma causa ou da possibilidade
referente ou ao exagero ou à medida exata, natural, do humor negro já que
existem casos inexplicáveis pela teoria da bili negra, os quais, quando do
conhecimento do povo (e segundo suas crenças) se transformam em mistério ou
algo sobrenatural.
Então,
não se pode ser incontestável quanto às causas desse estado e, uma era exemplar
disto é a Romântica, pois, nessa época, a perda das referências de cada
indivíduo o leva a eleger o estado melancólico como forma de estar e viver no
mundo (não é mais encarada como doença sofrida), ou seja, a tristeza passa a
ser uma nostalgia incurável, uma evocação dolorida de um tempo e espaço
perdidos, deixando a sensação de um vazio a ser preenchido.
Mas,
sendo escolha ou não de vida, seja causada pelo corpo físico ou pela alma, a
melancolia (em todos os tempos) é tida como mal incurável. E a incurabilidade
só é aceita por quem acredita numa força universal agindo sobre nós,
designando, assim, nossos infortúnios. É essa dor sentida, que não pode ser
superada que é aceita pelos “nossos poetas” como parte integrante de seus “Eus”.
(Renata Nunes - Melancolia e Morte na poesia de Antero de Quental e Augusto dos Anjos)
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