terça-feira, 21 de julho de 2015

Re-Nato.

Cheguei ao mundo de forma natural.
Um parto!
Literalmente, Normal.
Chorei.
Parabéns, mamãe, sou uma menina!
Chorei...
Sufoquei o grito de quem quer voltar,
Retroceder,
Não nascer, renascer,
Não Ser:
Re-Nata.
Trouxe uma bagagem pesada...
Alma angustiada por assombrações passadas,
Carregada de infortúnios - 
Mal do meu século!
Assim, cheguei a um planeta chamado Terra.
Fui arremessada para esta guerra!
Teria, eu, outra alternativa, senão, chorar?
Chorei!
Mas ninguém parecia ouvir minha lamúria.
Uma lástima!
Desventura...
Para não dizer: Tortura!
A falta de paciência me leva à loucura...
Te adianta e fala!
Faz logo as perguntas que desejas.
Anda, despeja! Tenho pressa!
Aviso, a resposta, muitas vezes, cala...
Mas não se acovarde,
Ainda estou aqui
E a dor arde,
Teima,
Me queima!
Agora calas, ser terreno?

Por mal, deixarei minhas respostas de herança:

Meu corpo? Meu Cárcere!
Meu mal? Teu Universo!
Sim, só teu, porque eu não sou deste mundo!
E também já nem sei quem sou.
Sequer sei exato em que estação estou!
Vivo à margem da dualidade, da desestabilidade.
Confesso:
É de enlouquecer!
Isso, enlouqueci...
Nem quero esta tua terra!
Cambaleio entorpecida,
Desabo embevecida
Em Êxtase,
Em Transe...
Isso, sim, para mim, é viver!
Sim, Vivo minha loucura...
Exato, prefiro-a
 à enxergar essa lucidez que te amargura,
a cegar diante desse amar que sangra,
ao ver-te, no fim!

Últimas palavras?
Um abuso! Que seja breve,
Só não prometo ser leve:

Perdoa, mamãe, por ter afogado meu gêmeo!
Teu útero não tinha espaço para dois corpos.
Ele se foi e me roubou o órgão,
Castrou-me!
Apropriou-se do meu sexo.
Confesso, pensei ter exterminado
Meu lindo e demoníaco ser idêntico.
Mas não pude executá-lo,
Não por completo...
Sacrifiquei seu corpo já condenado, afinal,
Para quê sofrer por ser autêntico?
Salvei uma criança da ignorância alheia.
Pensei fazer um bem a quem me fez Mulher!
Meu término deprimente...
E, agora, seu espírito anda a me espreitar.
Tua criança, mamãe! Teu menino
Ronda sem destino,
Numa rotina para me derrotar.
Quer meu corpo!
Ele, agora, quer Ser também.
Quem mandou, mamãe? Uma gravidez gemelar!
É lógico:
Não consigo me libertar!
Muitas vezes, sou mais ele do que eu!
Somos dois!
E não possuo seu corpo,
Porém, Ele tem o meu!
Este é o meu castigo, meu eterno tormento:
A presença do outro - inseparável parte de mim.
O bebê que não teve a oportunidade de nascer, crescer...
O menino poderia ter sido Homem uma vez sequer!
Devia ter me devorado,
Teria, dessa forma, me poupado
Desta vida inorgânica de tudo o que há na Terra!

(Renata Nunes)




Nenhum comentário: