terça-feira, 28 de julho de 2015

Absolem


Quem és tu?
Eu sou Alice.
Talvez não seja a Alice certa!
Já fui acusada de tantas coisas:
De ser Alice, De não ser Alice...
Agora já não sei mais.
E a senhora deveria sanar minhas dúvidas,
E fica aí, sentada nesse cogumelo duvidoso,
Fumando esse narguilé aromatizado,
Esperando a hora exata para levitar
- Inércia que me angustia -
Teu papel é me desafiar?
...
Quem és tu?
Já disse, sou Alice, quanta tolice!
Ensina-me como fazer para realizar a transformação.
Fala-me sobre o teu metamorfosear...
Desejo asas, ser livre para voar...
Mas não quero mais o:
COMA-ME! BEBA-ME!
Cansei dessas doces drogas!
Já ando alucinada o suficiente - demente!
A senhora devia fazer o papel de psicóloga.
Criva-me de perguntas mudas, sem respostas...
Fala algo útil para que eu mude!
Que método posso utilizar em meio a esta loucura?
...
Quem és tu?
Ora, quanta insolência!
Onde está o coelho branco?
Provavelmente ele chegará,
E essa estranha terapia há de acabar!
É tarde, É tarde
É tarde, É tarde, É tarde...
Ai, meu Deus, tarde demais para lembrar quem sou,
Se é que algo em mim restou.
E tu ainda permanece sentada e calma?
O que eu poderia esperar de uma lagarta azul?
Devo estar delirando...
Desde que acordei tenho tido sensações diversas
- Às Avessas -
Dá para explicar o que acontece?
Não, claro que não!
Sei que preciso reencontrar a verdadeira Alice,
E este é um trabalho só meu, não é?
Pois não quero ser a falsa nem a verdadeira!
Quero ser apenas Eu!
...
Quem és tu?
Voa logo e me deixa!
Prefiro estar sozinha...
Além disso, esta alucinação é minha!
Agora eu decido qual rumo tomar
Talvez, o jeito seja me abandonar...
Absolem...
Acaso não serias o senhor da Paz?
Ao menos é o que teu nome me diz,
Então, por qual motivo me deixas confusa?
Já estou perdida!
Dá para piorar?
Oh, desejo chorar...
Terapia me leva à exaustão.
...
Quem és tu?
Que coisa!
O coelho branco... Consegues ver?
Espera! Espera, senhor coelho!
É tarde, preciso ir...
Tic, Tac. Tic, Tac. Tic, Tac...
Acabou o tempo do meu auto conhecimento!
Adeus, Absolem!
Caminharei sozinha a partir de agora.
Que me perca! Que seja a hora!
Enlouquecer faz parte da minha história,
Se não me falha a memória!
Está tudo tão confuso,
E só tenho 24 horas...
...
Senhor coelho?
Onde ele se enfiou?
Coelho apressado!
Que coisa!
"Diz-me: onde queres ir?"
Nem venha com seu irônico sorriso,
Pode desaparecer, gato de Cheshire!
Agora, não tenho tempo para você!
Já que não sei onde vou,
Qualquer caminho há de servir!
Seguirei por ali...
É tarde, É tarde, É tarde!
É tarde... Muito tarde...
Não existe retorno, que transtorno!
Quanta loucura, meu Deus...
Tic, Tac! Tic, Tac! Tic, Tac!
É tarde!


(Renata Nunes)


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