terça-feira, 25 de agosto de 2015

Metamorfose.


Encarei o espelho:
Muda, Dolorida, Consciente!
A mente estacou por uma eternidade...
Diante duma incredulidade incalculável,
(Não havia um só pensamento!)
Minhas mãos deslizaram através do móvel vidro espelhado,
Meu corpo inteiro foi sugado, subjugado...
Mergulhei nas profundezas do desconhecido.
Chorei...
Quase me afoguei!
Meus cílios tentaram espantar desesperadamente os resquícios da água,
Porém, tudo ao meu redor estava embaçado.
Percebi que ainda estava submersa...
Mas como respirava?
Como sobrevivia?
Senti meu corpo pesado, afundando cada vez mais e mais...
O tempo não passava,
Sentia a eternidade da Morte,
E só.
Vazio e Escuridão, nada mais!
Deixei-me submergir,
Permiti um inundar dentro de mim e,
Nesse momento, não havia dor.
...
Estou Morrendo? (Meu único e solitário questionamento)

- Não! Você começou um processo de transição...

Voltei-me para a fosca imagem e questionei:

- Quem és Tu?

- A questão é: Quem és Tu?

- Absolem!

Sim, lá estava a incrível lagarta azul fumando seu narguilé em cima do seu inconfundível cogumelo...

- Como cheguei a Wonderland?

- Através do Espelho! Afinal, quem És Tu?

- Que desparate! Eu sou Alice!

- Será mesmo? A Alice certa ou a Alice errada?
Quem És Tu?

Sequer tive tempo de responder! A doce fumaça inalada passivamente começou a fazer efeito e senti meu corpo volitar...
Voei para longe...
Levitei...
Fechei os olhos e, copiosamente, Chorei!
Transfigurei-me num só pranto,
Derramei-me gota a gota,
Até ficar Vazia...
Ouvi sons quase que inaudíveis,
Então, não estava sozinha (pensei)!
Meus pés tocaram as flores,
As cores apareceram!
Caminhei lentamente e parei,
Estática, Aterrada e Amedrontada
Mediante tão aterradora cena.
A Hora do Chá!
E eu estava lá, apreciando cada gota num adorável diálogo com Meu Doce Chapeleiro.
Como? (Indaguei atônita)
E, como quem ouve os sons do vento,
Meu amado Chapeleiro me olhou (sim, olhou a Alice que não estava sentada à sua mesa),
E sorriu!
...
Eu enlouqueci? (Perguntei com desespero)

- Sim, somos todos loucos aqui! (Respondeu meu gato de sorriso lunar)

- E ela, quem é?

- A outra Alice!

Respondeu-me, sorriu, desapareceu...

A outra Alice?
Que coisa!
...
- Sim, meu bem, você está Louca. Louquinha! Mas vou te contar um segredo: As melhores pessoas do mundo são assim!

- Rainha Branca! Oh, não sei mais quem sou!

Desabei em seus pés...
Ela parecia um Anjo!
Delicadamente, me levantou e sorriu:

- Não temas! A insanidade não dói! O processo está quase terminando...

- Que processo? Por qual motivo tenho que ser duas Alices?

- A metamorfose, meu bem...

- E vou virar o quê? Já fui culpada de ser Alice, de não ser Alice! Oh, não aguento mais...

- A resposta é simples: você aceitará as Alices que há em seu Ser. Não importam quantas são! Você será absoluta, única e capaz de cuidar de todas elas...

- Mas Isto é Loucura!

- Este é o mundo que você criou, meu bem... Aceite-o. Aceite-se! E tudo ficará em seu devido lugar. És forte! Uma guerreira. Do que tens medo? Da loucura total e absoluta? Não, não temas... Ou se perderá ao invés de se encontrar. Lembre-se: Aqui é o seu lugar!

A Rainha Branca me deixou exatamente onde me encontrou e voou... Sorrindo...
...
Voltei-me para a mesa do Chá,
Estava posta, requintada, organizada!
O Chá fumegava na chaleira,
Mas não havia ninguém!
Me aproximei e senti o vento tocar meus cabelos num sussurro:

- Você voltou! Está atrasada, sabia? Danadinha!

- Ah, meu Bipolar e incrível Chapeleiro, como senti sua falta...

Ele sorriu, suas pupilas dilatadas brilharam mais que as estrelas e, suavemente, estendeu sua mão:

- Dizem que é preciso ser louco para viver aqui, o que, por sorte, somos! Alice... Alices. Seja! Sejamos o que somos! Posso te contar um segredo? As pessoas nos amarão quando verdadeiramente nos enxergarem! E Se não amarem? Ah, São Loucos... Como entender? Como não se apaixonar?

Sorri...
Um sorriso que só ele consegue arrancar!

- Sim, meu fiel companheiro, Meu Amado Chapeleiro, estou começando a entender... Por favor, preciso duma xícara de Chá!

- Não se apresse a entender. A Hora é esta, mas dura uma eternidade, tu sabes!

Ele sorriu...

- Sim, sempre com a razão! Esqueçamos tudo pois é sagrada nossa Hora do Chá! Claro, aceito mais Chá, por favor!

Sorrimos... Como cúmplices que somos, Sorrimos!

(Renata Nunes)







Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns ...Excelente