domingo, 23 de agosto de 2015

O que não me mata...

O que não me mata
Encarcera registros inomináveis
Duma época inexistente, mas resistente,
Cuja falta, por si só, maltrata!
Açoita a Alma, Apedreja o Coração, Dilacera a Carne...
Um abominável desconstruir de ilusões.

O que não me mata
Abandona-me em perpétua solidão,
Leva-me à exaustão,
Arranca-me qualquer resquício do que foi em vão,
Turva-me a visão!
Limita, Aprisiona, Enlouquece...
Esquece... Eu. Nós?

O que não me mata
Traz-me perguntas sem respostas,
Ronda minha mente,
A desmente!
Deixa-me dormente...
Por qual motivo NÃO podemos?
O que nos Impede?
Ah, quisera ter a resposta!
Mentira! Não quero palavras!
Quero mesmo é ser Teu vocabulário não-escrito, não-dito.
Inaudito...
Quisera jorrar da tua alma,
Através dos teus lábios,
Num laborioso monólogo sem fim...

O que ainda não me mata
Faz de mim uma refém!
Sequestro sem vítimas,
Sem ligações, sem espera, sem resgate!
Sem preço... Sem apreço...
Só Eu carrego estas amargas lástimas?
Anda, algoz companheiro,
Finaliza-me por inteiro,
Que seja breve, meu derradeiro fim.

O que não mata meu corpo,
Mata-me de falta!
Faz minh'alma morrer pouco a pouco...
Ah, quanto desgosto:
Sentir o sufocar da mente,
O almejar dum coração que anda doente,
Nesse silencioso suicidar...
Sinto muito!
Sinto tanto, mas tanto,
Que me desfigurei inteira,
E me joguei 
- sem eira, nem beira -
Para me transmutar em teu eterno e insistente pranto.

(Renata Nunes)