sábado, 29 de agosto de 2015

Reações Adversas.

Anoiteço... Ainda não é a hora, mas adormeço. Sequer vejo o Coelho Branco correndo apressadamente, com seu enfadonho relógio. Não, ainda não é tarde... O portal para Wonderland está lacrado! Eu capturo a sombra dum corpo dormente, entorpecido, amplamente vencido pela droga recomendada, devidamente prescrita (para quê, mesmo? Melhor não pensar!)... Minha alma ronda sem rumo, sonda o ambiente e se depara com o espelho. Sim, o Espelho! O que vejo? Apenas um corpo em sono profundo... Nada mais! Em desespero, Encolho-me num canto do quarto e grito! Meus gritos assemelham-se a súplicas de bebês não paridos, ferindo ouvidos de ninguém. Estou num deserto involuntário e sombrio. Estou só! E a solidão é esta sorrateira companheira, uma fiel escudeira, a carcereira que aprisiona e vigia a alma. Devo ser paciente... Mas não sou! Carrego a inquietude e a angústia no Ser! Dos que precisam, com extrema urgência, Viver! Não me conformo, nunca me contentarei em Sobreviver. A medicação dopa o corpo... Mas a Alma... Ah, essa é como um Corvo: prenúncio da Morte ou da má sorte? Só sei que voa... Vou enlouquecer! E ser Louca numa realidade como esta é como morrer à conta gotas... Wonderland me faz Viver - as insanas maravilhas dum mundo tão meu! Hush, Hush! Podes ouvir? Ouço passos... Quem pode ser? Levanto levemente como se minha alma carregasse o peso de todo o universo e caminho ao encontro dos insistentes passos. Intrigante! Não há ninguém em casa... Deslizei, sutil e morna, por entre os concretos de toda a casa. Esgueirei-me como sombra e... Assombrei-me! Mas isto é Impossível! Não, nada é impossível... Passei tanto tempo numa ausência sem nome que sequer notei a falta do meu próprio corpo na cama... Ou, ainda, a falta da alma na carne. Era Eu! Incontestavelmente, Eu dei passos furtivos para Voar! Minha sombra era Eu sentada em frente à tela do computador: digitando, digitando, digitando... Estava liberta! Wonderland estava à minha espera! Ah, Alice, posso te contar um segredo? O portal nem existe mais. Agora, Vai! Segue teu coração, cumpre tua jornada e alcançarás teu doce destino! És Louca. Louquinha! Mas as melhores pessoas do mundo são assim. Pois então, Vai! Vive intensamente tudo o que deveria ser, mas não é - nesse mundo tão teu. Ah, Wonderland... Que esta dupla realidade (insanidade?) jamais tenha Fim!

(Renata Nunes)

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Metamorfose.


Encarei o espelho:
Muda, Dolorida, Consciente!
A mente estacou por uma eternidade...
Diante duma incredulidade incalculável,
(Não havia um só pensamento!)
Minhas mãos deslizaram através do móvel vidro espelhado,
Meu corpo inteiro foi sugado, subjugado...
Mergulhei nas profundezas do desconhecido.
Chorei...
Quase me afoguei!
Meus cílios tentaram espantar desesperadamente os resquícios da água,
Porém, tudo ao meu redor estava embaçado.
Percebi que ainda estava submersa...
Mas como respirava?
Como sobrevivia?
Senti meu corpo pesado, afundando cada vez mais e mais...
O tempo não passava,
Sentia a eternidade da Morte,
E só.
Vazio e Escuridão, nada mais!
Deixei-me submergir,
Permiti um inundar dentro de mim e,
Nesse momento, não havia dor.
...
Estou Morrendo? (Meu único e solitário questionamento)

- Não! Você começou um processo de transição...

Voltei-me para a fosca imagem e questionei:

- Quem és Tu?

- A questão é: Quem és Tu?

- Absolem!

Sim, lá estava a incrível lagarta azul fumando seu narguilé em cima do seu inconfundível cogumelo...

- Como cheguei a Wonderland?

- Através do Espelho! Afinal, quem És Tu?

- Que desparate! Eu sou Alice!

- Será mesmo? A Alice certa ou a Alice errada?
Quem És Tu?

Sequer tive tempo de responder! A doce fumaça inalada passivamente começou a fazer efeito e senti meu corpo volitar...
Voei para longe...
Levitei...
Fechei os olhos e, copiosamente, Chorei!
Transfigurei-me num só pranto,
Derramei-me gota a gota,
Até ficar Vazia...
Ouvi sons quase que inaudíveis,
Então, não estava sozinha (pensei)!
Meus pés tocaram as flores,
As cores apareceram!
Caminhei lentamente e parei,
Estática, Aterrada e Amedrontada
Mediante tão aterradora cena.
A Hora do Chá!
E eu estava lá, apreciando cada gota num adorável diálogo com Meu Doce Chapeleiro.
Como? (Indaguei atônita)
E, como quem ouve os sons do vento,
Meu amado Chapeleiro me olhou (sim, olhou a Alice que não estava sentada à sua mesa),
E sorriu!
...
Eu enlouqueci? (Perguntei com desespero)

- Sim, somos todos loucos aqui! (Respondeu meu gato de sorriso lunar)

- E ela, quem é?

- A outra Alice!

Respondeu-me, sorriu, desapareceu...

A outra Alice?
Que coisa!
...
- Sim, meu bem, você está Louca. Louquinha! Mas vou te contar um segredo: As melhores pessoas do mundo são assim!

- Rainha Branca! Oh, não sei mais quem sou!

Desabei em seus pés...
Ela parecia um Anjo!
Delicadamente, me levantou e sorriu:

- Não temas! A insanidade não dói! O processo está quase terminando...

- Que processo? Por qual motivo tenho que ser duas Alices?

- A metamorfose, meu bem...

- E vou virar o quê? Já fui culpada de ser Alice, de não ser Alice! Oh, não aguento mais...

- A resposta é simples: você aceitará as Alices que há em seu Ser. Não importam quantas são! Você será absoluta, única e capaz de cuidar de todas elas...

- Mas Isto é Loucura!

- Este é o mundo que você criou, meu bem... Aceite-o. Aceite-se! E tudo ficará em seu devido lugar. És forte! Uma guerreira. Do que tens medo? Da loucura total e absoluta? Não, não temas... Ou se perderá ao invés de se encontrar. Lembre-se: Aqui é o seu lugar!

A Rainha Branca me deixou exatamente onde me encontrou e voou... Sorrindo...
...
Voltei-me para a mesa do Chá,
Estava posta, requintada, organizada!
O Chá fumegava na chaleira,
Mas não havia ninguém!
Me aproximei e senti o vento tocar meus cabelos num sussurro:

- Você voltou! Está atrasada, sabia? Danadinha!

- Ah, meu Bipolar e incrível Chapeleiro, como senti sua falta...

Ele sorriu, suas pupilas dilatadas brilharam mais que as estrelas e, suavemente, estendeu sua mão:

- Dizem que é preciso ser louco para viver aqui, o que, por sorte, somos! Alice... Alices. Seja! Sejamos o que somos! Posso te contar um segredo? As pessoas nos amarão quando verdadeiramente nos enxergarem! E Se não amarem? Ah, São Loucos... Como entender? Como não se apaixonar?

Sorri...
Um sorriso que só ele consegue arrancar!

- Sim, meu fiel companheiro, Meu Amado Chapeleiro, estou começando a entender... Por favor, preciso duma xícara de Chá!

- Não se apresse a entender. A Hora é esta, mas dura uma eternidade, tu sabes!

Ele sorriu...

- Sim, sempre com a razão! Esqueçamos tudo pois é sagrada nossa Hora do Chá! Claro, aceito mais Chá, por favor!

Sorrimos... Como cúmplices que somos, Sorrimos!

(Renata Nunes)







domingo, 23 de agosto de 2015

O que não me mata...

O que não me mata
Encarcera registros inomináveis
Duma época inexistente, mas resistente,
Cuja falta, por si só, maltrata!
Açoita a Alma, Apedreja o Coração, Dilacera a Carne...
Um abominável desconstruir de ilusões.

O que não me mata
Abandona-me em perpétua solidão,
Leva-me à exaustão,
Arranca-me qualquer resquício do que foi em vão,
Turva-me a visão!
Limita, Aprisiona, Enlouquece...
Esquece... Eu. Nós?

O que não me mata
Traz-me perguntas sem respostas,
Ronda minha mente,
A desmente!
Deixa-me dormente...
Por qual motivo NÃO podemos?
O que nos Impede?
Ah, quisera ter a resposta!
Mentira! Não quero palavras!
Quero mesmo é ser Teu vocabulário não-escrito, não-dito.
Inaudito...
Quisera jorrar da tua alma,
Através dos teus lábios,
Num laborioso monólogo sem fim...

O que ainda não me mata
Faz de mim uma refém!
Sequestro sem vítimas,
Sem ligações, sem espera, sem resgate!
Sem preço... Sem apreço...
Só Eu carrego estas amargas lástimas?
Anda, algoz companheiro,
Finaliza-me por inteiro,
Que seja breve, meu derradeiro fim.

O que não mata meu corpo,
Mata-me de falta!
Faz minh'alma morrer pouco a pouco...
Ah, quanto desgosto:
Sentir o sufocar da mente,
O almejar dum coração que anda doente,
Nesse silencioso suicidar...
Sinto muito!
Sinto tanto, mas tanto,
Que me desfigurei inteira,
E me joguei 
- sem eira, nem beira -
Para me transmutar em teu eterno e insistente pranto.

(Renata Nunes)






sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Coelho Branco.

Ah, meu irrequieto Coelho Branco,
Por qual motivo tanto me torturas,
Levando-me à loucura,
Fazendo-me do tempo lembrar?
Oh, seja franco!
Quem és tu, afinal?
Não, evito pensar! E...
Odeio relógios!
Eles sempre fazem a hora passar.
Rápido, muito rápido,
Tanto, que torna-se tarde...
Hora de remédio, Hora de dormir, Hora de despertar, Hora de voltar...
Ora! Que coisa!
Tanto compromisso para lembrar!
Não... Eu não quero!
Se eu fosse a rainha, andaria a gritar:
Quebrem todos os relógios!
Quem sabe assim poderia parar, perdida nas horas...
E não haveria tempo para recordar.
O que é o tempo?
Anda, responde!
Sabes o que ele representa?
Para você, um atraso, com certeza!
Vive apressado, correndo como louco...
Para mim... Calma! Vou te contar,
Em segredo:
O tempo é o algoz que me aprisiona,
Nesta inútil e insensata realidade,
Sim, prefiro a Insanidade!
Então, por favor, eu suplico:
Se queres fazer parte desse mundo tão meu,
Abandona a Hora...
Transforma-te em eternos segundos!
É tão mais mágico... Prender-se ao Agora!
Vem comigo,
A pressa é inimiga do coração!
Vamos nos libertar!
Sim, nesse caso, precisamos dum certo Chá.
Esqueçamos esse som infernal,
E mergulhemos nas brumas da inconsciência!
Para quê ter ciência?
Ah, chegamos!
Viu? Sempre é tempo...
Quando nos abandonamos sem hora para voltar,
Sempre, sempre é Hora do Chá!

(Renata Nunes)



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Your body is a Wonderland...




Rápido, Rápido!
É hora do Chá!
Lá vai o Coelho com seu insistente relógio,
Fazendo seu interminável e irritante:
Tic tac, tic tac, tic tac...
É tarde, é tarde,
É tarde, é tarde, é tarde!
Ai, ai, meu Deus...
Quanta pressa!
Estamos caindo...
À caminho dum maravilhoso sub-mundo!
- Avesso do Real -
Não se preocupe, Cair não dói!
Estamos voando...
Estou sorrindo...
...
Sempre pontual, meu adorável Chapeleiro!
Adoro o cheiro desse lugar...
Ah, permita-me te apresentar!
Trouxe uma companhia hoje...
Encantada, não é?
Sim, o olhar dela é penetrante,
Algo alucinante...
O teu também é!
És apaixonante, meu louco Chapeleiro...
Sim, aceitamos uma xícara de Chá!
Claro que podes nos contar um segredo!
Teu jardim será só nosso?
Preparaste um Chá apenas para nós duas?
Intrigante! Como sabias que estaríamos aqui hoje?
Nós duas...
Sempre com a razão, meu doce Chapeleiro:
Melhor não saber...
Qual a necessidade de pensar, não é mesmo?
Podes nos levar até o jardim?
Sim, antes, brindemos! Tomemos mais Chá!
...
O jardim estava repleto, florido, colorido...
Havia uma toalha branca bordada,
Delicadamente colocada sobre as flores,
Nos convidando para um distinto Chá
Ai, ai, meu amado Chapeleiro,
Está tudo tão perfeito!
Chapeleiro?
Desapareceu!
Imaginei... Estamos sozinhas!
Vem...
Aceitas mais uma gota de Chá?
Sim, sempre!
Olha ao redor...
Tão Monet!
Ou nossos olhos estão turvos?
Não importa! Adoro tudo o que vejo e desejo...
Olha, a Lua anda a sorrir!
Um brinde à Magia da Natureza,
Ao Avesso...
Consigo me enxergar em teus olhos...
Tuas pupilas estão dilatadas...
Consegues te enxergar em mim?
Chega mais perto...
Deixa... Adoro quando teu cabelo cai sobre teu rosto!
Me olha...
Devagar...
O que enxergas é pura beleza,
Teu reflexo!
Coloca tua mão em minha nuca,
Cerra meus olhos com um beijo,
E faz da minha boca uma fonte incessante de prazer
- Miragem na secura d'alma -
...
Estávamos sob o sorriso da Lua e o brilho das Estrelas,
Sentadas em meio às lapidadas porcelanas do Chá.
As flores haviam crescido tanto desde a minha última visita,
Que pareciam nuvens
- Um paraíso na terra -
Beijaste minha boca com ternura,
Mas o vento soprou,
O Fogo aumentou,
E as mordidas que recebia em meus lábios
Faziam-me estremecer!
Dos ternos e doces beijos,
Fomos aos entorpecentes, loucos, apaixonados e sôfregos lampejos!
Desejo contido, inaudito...
À beira da loucura,
Não conseguíamos mais parar...
Soltaste minha boca, e a tua percorreu minha nuca,
Afastou meus cabelos,
Encontrou os botões do meu vestido...
Ainda estava de olhos fechados,
Sentia tua boca percorrendo minhas costas,
Enquanto tuas mãos desabrochavam cada botão...
Tuas mãos deslisaram (entre as alças do vestido) através de meus braços
Até chegar em minhas mãos...
As alças do vestido se soltaram,
Ainda de costas, tocaste meus seios,
Senti os teus em meu corpo...
Me viraste, abri os olhos,
E fiquei alucinada com tamanha graça e formosura,
Corpos despidos sob a luz da noite...
Me pegaste no colo,
Num perfeito encaixar-se,
Nos beijamos...
Me doei para você,
Inteira...
A noite foi cúmplice
Dos sussurros e gemidos,
Da loucura de colar meu corpo no teu,
Dos movimentos sincronizados numa perfeita harmonia,
Do prazer indescritível,
Do tesão impalpável,
Da Loucura de Amar você...
Caminhei entre tuas pernas,
Minha língua percorreu teus seios,
Minhas mãos te apertavam,
Corpo e Alma tremiam!
Me deliciei com um outro e dulcíssimo Chá,
Aliciante... Alucinógeno...
Nos perdemos no desvario, na ânsia insana do fruir...
Chegamos juntas ao ápice,
Apogeu do prazer!
Cume do regozijar...
Sim, eu morri!
D'Amor... De tanto Amar!
Mas continuei viva para, ainda, olhar em teus olhos
E declarar:
Eu Amo Você...
Hei de Amar-te até Wonderland acabar!
Mas, Posso te contar um segredo?
Wonderland para sempre, em mim, Viverá...


(Renata Nunes)


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Fogo e Ar - Amar!

Despi-me de meu próprio corpo e fui.
Como pétalas de Dentes de Leão,
Deixei-me levar, voar...
O vento foi meu guia
– Meu Elemento: Ar! –
Estavas entorpecida... Belamente adormecida!
Sorri... Sempre sorrio para você!
Meus olhos pousaram em teu corpo despido,
Perfeitamente esculpido,
Levei uma eternidade nesse admirar-te!
Até que, seja pela suave brisa que te tocava,
Ou pelos olhos famintos que queriam devorar-te,
Enfim, teus olhos fixaram os meus...
Sorri,
Estendi a mão,
Estremeci ao leve toque da tua pele na minha...
Embora trêmula, te conduzi...
Através do Espelho
– Reflexo de campos floridos –
Adentramos em nosso Jardim Secreto...
Som ambiente? A Natureza em movimento!
Estávamos encantadas com tamanha beleza,
Tudo ao nosso redor era tão perfeito, discreto...
Foi indescritível ver-te a favor do vento...
Cabelos soltos, revoltos...
Minhas mãos não resistiram,
Tentei, em vão, alinhá-los,
Mas o vento soprava forte neste momento.
Ou era Eu? Ar virando tempestade?
E foi com a leveza do Ar que meus lábios tocaram tua mão,
– Carícia de quem Ama –
Meus lábios percorreram suavemente teu abraço,
Teus cabelos, teu rosto,
Tua boca!
Ah, esse encontro foi mágico...
Fechei os olhos e sorri no teu sorriso.
Nossas bocas bailaram no ritmo do Ar...
Dançaram, rodopiaram ao som da mais bela canção,
Nas batidas dum só coração!
Eternizamos um beijo arduamente desejado.
Abri os olhos e te olhei tão de perto,
Que me enxerguei inteirinha em você.
Eis que o Ar soprou mais forte,
E acendeu as chamas dum Fogo adormecido!
Ar e Fogo... Fogo e Ar?
Não importa! A ordem é só uma: Amar...
Minha pele estremeceu, pegou fogo!
Seios se tocando, mãos me apertando, bocas beijando...
Estávamos Voando!
A lua sorriu e nos presenteou com a luminosidade das estrelas,
Sim, fomos ao céu, meu amor!
És linda! Perfeição da Natureza...
Minha boca sorriu em cada parte do teu corpo,
Meus cílios te acariciaram inteira,
Sofregamente, Ensandecidamente!
Estávamos Loucas! Louquinhas...
O Fogo, as Chamas crepitando...
O Ar alimentando...
Explodimos de prazer!
Ah, como é bom viver!
O fogo nos fez derreter, nos transformou num só corpo.
Corpos colados, inseparáveis...
O Ar nos fez delirar...
“Começo, Meio e Fim” – Inexistência em desvarios intermináveis.
Fizemos da Eternidade o nosso momento.
Não, não paramos,
Somos Insaciáveis!
Aprisionamo-nos na Ânsia de Amar
Em excesso!
Perdemos a hora, nos abandonamos num paraíso só nosso...
Ah, como é bom Morrer de Amor e continuar vivendo!
Vou te contar um segredo:
Tempo e Distância jamais me impedirão de te Amar...
Quando a luz dum novo dia tocou minha alma,
Voltei ao corpo (inundado e estremecido),
Meus olhos abriram vagarosamente...
Senti teu cheiro no Ar,
Fechei os olhos instantaneamente!
Sorri...
Ah, como é bom sonhar!



(Renata Nunes)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015


Meu amado Chapeleiro Maluco... 
Precisarei sempre duma xícara do teu aliciante Chá!

Alice através do Espelho.





Nem preciso esperar,
Já me lancei no espelho.
E o coelho?
Será que, finalmente, abandonou o tempo?
...
A neve caía lá fora,
Agasalhando as árvores e os campos.
Meus olhos se debruçaram sobre a janela,
E o doce som do gelo na vidraça
Soava levemente...
Sonolência ou Fantasia?
Um terno e gélido beijo...
O inverno parece indiferente,
Mas nos ama, tanto que nos faz adormecer
Hibernar...
Num torpor para esperar o vento soprar,
Num uivo de liberdade!
Os bosques,então, se vestem de verde e bailam...
...
Engraçado, quando estou do outro lado, não consigo me tocar.
Que coisa!
Agora me vejo adormecida e estou aqui.
Do outro lado do espelho posso, enfim, me alcançar!
Vejo o fogo crepitar,
Estou queimando por dentro.
É preciso correr!
Correr muito rápido para continuar no mesmo lugar.
E correr o dobro para acompanhar minha mente,
Minhas ideias, meus ideais...
Minha vontade de viver!
Chorei...
Lágrimas geradas como o orvalho nascido na gelidez da madrugada.
Eu sou real?
Claro que sou! Ou estas lágrimas não existiriam.
Ou até elas podem ser irreais?
Que confuso!
Prefiro acreditar no impossível.
Esta é apenas uma das coisas que considerei impossível quando acordei hoje pela manhã.
...
Muito prazer, eu sou Alice!
Não, não sei o significado do meu nome.
Isso é importante?
Talvez meu nome tenha tantos significados que ficaria difícil falar...
Deve ser a junção de todos meus "Eus".
Por favor, não me faça pensar!
Não agora...
Preciso ir! É tarde...
Preciso saber onde estou.
Já sei, a Colina!
Vou escalá-la e, bem do alto, meus olhos alcançarão todas estas distâncias.
...
Um tabuleiro de Xadrez?
Tudo aqui é nonsense...
Que coisa!
Vou começar avançando duas casas,
Talvez, dessa forma, consiga realizar esta estranha travessia.
Não, não dá para pensar!
Como vou traçar uma linha unidirecional deste contexto?
É necessário capturar o Rei...
Que Rei?
Só lembro da Rainha Vermelha!
Afinal, Quem sou eu no jogo?
Intrigante...
Não, não sei quem sou!
Sequer tenho a fórmula para um Xeque-Mate!
Onde vim parar?
E o Chapeleiro?
Por onde andas que não vens me salvar?
...
Sim, agora percebo... És tu! Tu jogarás!
Que delícia me abandonar para que possas me movimentar!
Sim, sempre sorrio para você,
Meu incomparável Chapeleiro!
Podes me guiar...
Confio em nossa conexão!
Não, não tenho mais medo.
Claro, podes começar!
Posso te contar um segredo, meu adorável Chapeleiro?
Para que possa vivenciar e ganhar esta partida,
Sim, Eu necessito do teu Chá!
És minha riqueza!
Claro que não esquecerias!
Teu estonteante Chá...
Adoro absorver cada gotinha até ficar leve como o vento...
Sim, preciso estar leve para que possas me movimentar.
Sabe-se lá o que irei enfrentar!
Teus olhos já estão como eu gosto...
Já me vejo... Meu reflexo, meu Não-Eu!
Sim, agora estou pronta!
Vamos brindar,
E começar a jogar!

(Renata Nunes)












terça-feira, 11 de agosto de 2015

Wonderland - Inconsciente?

O inconsciente é atemporal.
Em meus sonhos, por vezes, ansiosos,
Num mundo onírico
- representado por incomparável jardim florido, colorido -
Vivo como Alice.
Meu reino de "fadas"...
Onde fugimos das leis convencionais da lógica,
E do raciocínio consciente.
Meu equilíbrio psíquico...
Realização de desejos:
Suprimidos, Recalcados...
Sim, em Wonderland tudo é possível!
Os animais convivem em condições de igualdade com os homens.
Mas tudo é imprevisível!
Amo meu mundo aloprado,
Minha refeição interminável,
Com meu Louco Chapeleiro...
- Mundo das ideias e pensamentos -
Meu interminável desejo alucinatório...
Quão deliciosas são essas horas de devaneio,
Tomando teu alucinógeno Chá,
Meu melhor amigo Chapeleiro!
Ei, esse sonho é meu!
Nada deveria me machucar...
Que coisa!
Ora, se cada um cuidasse da própria vida,
O mundo giraria bem mais depressa.
Sai dessa, Gato!
Nunca vi um sorriso sem gato...
Me deixas zonza desse jeito.
Que coisa!
Suma de uma vez, meu gato de sorriso lunar!
Por favor, deixe-me ficar...
Ando extremamente necessitada de um Chá,
E de uma refeição sem tempo,
Com meu adorável Chapeleiro!
Podes ir...
Não se preocupe, sei bem por qual estrada devo seguir!
Sim, és magnífico, meu gato ilusionista,
És fascinante!
Nunca vi a lua tão de perto!
Tudo isso me intriga...
E eu não quero pensar!
Não posso, entendes?
Exatamente por isso, preciso do Chá!
Quero flutuar...
Volitar...
Que mão delicada e doce
- Meu amado Chapeleiro -
Beijo-a com toda ânsia e ardor duma Alma
Que tem pressa.
Me angustio pois te anseio!
Sei que sabes exatamente sobre o que falo...
Não aguento mais aquele lugar!
Lá o tempo é confuso...
As pessoas são loucas!
É o meu avesso...
Sim, meu querido, compreendo...
Ainda não é o momento de ficar para sempre a teu lado.
Acaso sabes quando será?
Sim, sempre certo, melhor não pensar!
Vamos tomar nosso delicioso e entorpecente Chá!


(Renata Nunes)




quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Beija-Flor...

Eu quero te roubar pra mim.
Caminho sem volta!
Sequer sei teu nome.
Não importa, sinto uma força estranha no ar,
Por isso imitarei Cazuza e te protegerei
Em um Codinome,
Beija-Flor!
Beija-me como se toca uma flor...
Usa tuas asas e me leva ao céu,
Quero sentir teu paraíso,
Tocar tua boca adocicada de mel...
Fechar os olhos e voar com você, meu amor!
Prometo ser delicada e não te machucar,
Continuarás intacta para florir outros campos,
Fascinar outras vidas,
Perfumar outros tantos espíritos.
Estarás liberta para alçar teus infindos voos...
É preciso Amar para Libertar!
Mas antes, te roubarei!
Nossa energia é intensa,
De tirar o fôlego!
Somos excessivas,
Teremos a Terra, o Céu e o Mar,
A um só tempo,
Enquanto nossa secreta fantasia durar...
Seremos um só corpo no compasso do mesmo tremor,
Peles expostas, sobrepostas, compatíveis,
Confortavelmente instaladas, Perfeitamente posicionadas.
Sim, sou louca! Mas faremos Amor...
Ensandecidamente, Enlouquecidamente!
Poderia morrer, sim, de Amor!
Morte mais doce não há.
Possuímos olhares arrebatadores.
Seremos incansáveis!
Viajaremos na delícia do peregrinar outra pele,
Voaremos rumo ao imensurável mundo do prazer,
E por lá repousaremos em meio às flores...
Sentiremos a harmonia do pouso,
O regozijo, o júbilo e o contentamento...
O sorriso estará estampado em nossas bocas.
E quando precisarmos voltar, tenta lembrar:
Embora distantes fisicamente,
Somos Almas insolitamente conectadas!
E, por favor, não esquece:
Me beija...
Me beija, Flor!


(Renata Nunes)