É
Noite alta e, insone, autoconsumo-me num quarto que parece não ser meu.
Sozinho, tenho febre e frio. Entretanto escrevo-Te. Escrevo-Te na ânsia
de capturar-Te em Teu sono, em Teus sonhos, em minha semi-ânime
vigília.
Na Madrugada fria em que a solidão
tece miragens, meus olhos vêem Teu Corpo seminu, de bruços, posto numa
cama coberta por um lençol de linho branco, alvíssimo. Teu Dorso,
resguardado em parte pelos cabelos longos até quase a cintura, esconde
uma beleza plástica... idílica. Direciono meu olhar para os Teus Quadris
e, em seguida, para a calcinha (branca... pequena... de renda) e o que
ela oculta parece o anverso de uma Cidade Bela que deseja ser habitada.
Tuas Pernas entreabertas retesam todo o meu corpo. Sim, Você dorme.
Dorme como uma mulher que engendra sonhos. Na força dessa miragem, Você
se mexe lentamente feito quem tem o poder de domar a menor marcação do
tempo e, ainda envolvida pelo sono, mostra-se de frente. Perscruto Teu
Rosto embebido de paz; Teus Seios, tesos de paixão e desejo, são como
duas místicas maçãs; Teu Ventre, sagrado, indica-me o caminho da Cidade
Bela (envolta pela renda branca) que anseia ser habitada brandamente,
quase num sussurro... deleito-me com essa visão e penso no Cântico dos
Cânticos... Suspiro e Ninguém me ouve... Jamais ouvirá...
Agora, abres os olhos devagar e me
chamas. Entre névoas que turvam meus olhos, atendo a esse chamamento
inescapável. Silente, minhas mãos seguram as Tuas, meu corpo envolve o
Teu e beijo-Te. Sim, com brandura, minha língua penetra Tua Boca na
ânsia da Tua (Língua) e o Tempo inexiste (de prazer, gememos. De prazer,
Nossos Corpos se retesam). Minhas mãos, sob os Teus cabelos, massageiam
Tua Nuca aveludada e minha boca e língua deslizam docemente (Teu Corpo
tem gosto de Mel) por Teus Seios hirtos. Imperceptível, Você se debruça e
Teu Dorso clama por prazer. Sedento, atendo ao apelo. Afasto Teus
Cabelos e, ofegante entre Tua Nuca e Tua Cintura, sigo em direção a Teus
pés (Neles, as mãos de Da Vinci se deixam entrever: anatomia posta em
telas). Recomeço a escalada, roçando minha barba por sobre Tuas Pernas
até a parte anterior de Tuas macias Coxas. Minhas mãos tocam Teus
Quadris, comprimindo-os levemente, lentamente. Você se mexe... geme.
Põe-se, agora, de frente e a Cidade Bela (sob a calcinha branca...
pequena... de rendas) surge inteira: molhada, suplicante. Beijo o Teu
Umbigo e roço minha língua na Cidade Submersa. Suave, meus dentes A
descortinam e plena, e bela, e intumescida... desponta. Animal
indomável, minha língua dança em movimentos concêntricos no molhado
regaço. Sinto Teu cheiro de Mulher e Tuas Mãos afagam meus cabelos.
Entrevejo Teus Olhos semicerrrados e um sinal incapturável me diz que é
hora de invadir-Te... de deixar escoar o que de represado se fez... é
hora de habitar a Cidade Bela... de encarnar a indelével alma dos anjos.
Nossos corpos fatigados, suados,
imersos em celeste dormência prendem-se Um ao Outro. Pousando a Cabeça
em meu peito, laçando-me com Tuas Pernas macias, encostas a Cidade Bela,
ainda inundada, em minha virilha e adormeces...
É Noite alta e, insone, autoconsumo-me
num quarto que parece não ser meu. Sozinho, tenho febre e frio.
Entretanto escrevo-Te. Escrevo-Te na ânsia de capturar-Te em Teu sono,
em Teus sonhos, em minha semi-ânime vigília.