terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Estação dos Sonhos.


De repente, caminhava no outono, por entre árvores de infinita beleza. Folhas caíam, bailando no ar... O vento frio me arrepiava a pele, ouriçava meus pelos, desalinhava os longos fios dos meus cabelos... A cena figurava um quadro de poucas cores, frias dores. Comecei a ouvir uivos vindos de além-ar, sussurros que não me impediam de andar, respirar, destilar meus dissabores...

Andava seca como as folhas caídas na estrada infinda. Caminhava sem rumo, não havia leme. Minhas mãos seguravam algo firmemente nos bolsos do grosso casaco. Sequer ousava olhar para trás e ver a estrada coberta de folhas mortas, preferia sentir o som do vento arrancando suavemente folha a folha em seu destruir para recomeçar... Não sabia onde pretendia chegar, apenas tinha a certeza de que parar significaria me enterrar com tantas folhas já sem vida. Talvez algo em mim ainda quisesse lutar contra a morte.

Meus olhos petrificados e turvos sequer piscavam – rosto contraído, sem movimento... Apenas o vento me acariciava a face. Nem alma havia em meu caminho e nem um ser vivo se atreveria a tanto... Continuava a caminhar contra o vento, contra o tempo, contra meus próprios tormentos. O ar exalava lamento, a estação começou a mudar...

As árvores antes compostas de secas folhagens se transformaram em negros troncos congelados. A tela pintou-se de preto e branco. Mas o clima não era tão frio quanto o gelo esculpido pelos meus olhos – perfeita obra-prima! Caminhei tanto que em determinado momento cheguei ao nada, enfim, tudo branco – cor do meu pranto...

Não havia mais razões para continuar, parei. Estaquei e quase congelo não fosse as mãos enfiadas nos bolsos macios. Saí do transe no qual me encontrava ao sentir algo em minhas mãos. Saquei a mão direita e num papel branco pude ver o desenho de um coração. Não sei se isto me fez lembrar que eu tinha um coração, mas parece que o sangue voltou a circular pelo meu corpo – descongelar de uma alma... Lembrei-me de que havia algo entre meus dedos da mão esquerda. Numa folha colorida e amassada, estava escrito:

"... Acaso o inverno aparentemente seja a única solução, não esqueça que a primavera é a próxima estação..."

...

Acordei.

...

Oceanos desaguaram,
- Prenúncio de libertação? -
Permiti que escorressem, despencassem, encharcassem...
Inundando o corpo, drenando a alma.
Minha visão permaneceu nebulosa por muito tempo
- Minha turva realidade -
Meus mundos se chocaram,
- Anúncio do Caos? -
Percebi-me Desguarnecida, Desabitada, Plenamente Derramada...

Contrária à ordem natural da própria natureza,
Não, não senti o desabrochar das flores.
Recuei.
Percorri o caminho inverso (condizente com a minha muda estranheza). 
Senti brotar o inverno de todas as dores.
Divaguei.

Habitei o Vazio
- Total e Absoluto -
Arrepiei de Frio...

Joguei-me na decadência
- Estação da Introspecção -
Neste retrocesso, caí...
Ruína da inconsciência!
Uma intensa ventania tomou o meu corpo,
O ar foi tomado por uivos paridos em terra de ninguém.

Habitei o "olho do furacão"
- Revolto e Destrutivo -
Senti um turbilhão no coração...

Despenquei na Seca
- Estação da Estiagem -
Estanquei sem ar, desmaiei...
Auge da Consciência!
Um intenso queimor percorreu minhas veias,
Enquanto meu corpo (ainda inerte) recebia pancadas d'água.
Inundei-me por completo!

Habitei terras Áridas
- Tediosas e Sedentas -
Senti que deveria Regá-las...

E, neste constante doar-me,
Avistei um lindo recomeço
- Estação do Reflorescimento -
Prossegui banhando cada pedacinho de Terra infértil.
E presenciei a divindade acontecer através das infindas novas flores.
Senti o desabrochar de um Inefável Sorriso,
E o despertar d'alma para uma Indelével Era.

Percebi que Eu tenho o dom de transformar realidades!
Pensei em Você e meus lábios se agigantaram num lindo sorriso.
Duas lágrimas caíram para celebrar esta estranha e desconhecida Felicidade...

Neste exato momento, Eu precisava de você!
Atravessei infinitos para te encontrar...
Pousei em teu olhar...
Mergulhei em teu abraço – meu eterno porto-seguro...
Enfim, pude ver as cores e o perfume das flores habitando o meu ser 
– aquecer de um corpo, salvação de uma alma -

...

Despertei no Subconsciente...

...



Sim, esta Saudade Agreste me leva ao Delírio;


Muitas vezes, sequer sei distinguir sonho de realidade;
Não, não estou me utilizando dos meus constantes e irresistíveis excessos...
Divago Acordada, 
Acordo em meio a um sonho e, 
Por infinitos segundos,
Não sei o que é Palpável!
Não sei, sequer, onde estou!
Talvez nem saiba quem, de fato, SOU.
Quantas vezes peguei o celular achando que existia uma mensagem tua?
Hoje mesmo acordei assim e, em meio ao mais completo devaneio, 
Quis digitar a resposta que já estava em mente!
...
Levei uma eternidade tentando entender o motivo de não haver nem uma letra...
Tentei encontrar o consciente para, enfim, perceber que tudo isso havia ficado em meu mundo inconsciente...



Levantei trêmula... 


Corpo, Alma e Coração gritaram por Você!
Chorei...
Meus olhos, ainda nebulosos,
Possuíram o ambiente e, possuindo-os,
Aprisionaram-me nesta Saudade Inominável
Que me Infesta, Devasta
 E preenche...
Deixando-me louca e completamente apaixonada por Você.



...

Para quem acredita que é preferível não sentir tamanha loucura,
EU digo quão encantados tem sido os dias nos quais me perco e quase enlouqueço por ME SENTIR, ARREBATADORAMENTE, VIVA!

AMAR CURA!



(Renata Nunes)
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