quinta-feira, 13 de outubro de 2016

I Miss You, Alice...




Quem saberá os reais desígnios da alma
E os infindos propósitos de mais uma encarnação?
Sei da calma que me falta,
Da angústia infesta que me consome
Pela simples falta de resignação...

Sim, sou inconformada, louca, agitada;
Sou em Excesso!
Sofro dum "Eu" expresso...
Ou "Eus" que se digladiam silenciosamente
Numa guerrilha não falada.

Essa batalha não dita me leva à exaustão,
Num momento, combustão,
No outro... A geleira dum vazio profundo, nebuloso,
Inexprimível...
Reflexos dum ser ora irresistivelmente encantador, ora terrivelmente cabuloso.

Ademais, diante de todas as medicações estabilizadoras de Humor,
Não sei quem sou!
O que resta de mim nesse estado aparentemente "normal"?
Estou perdida entre dois mundos,
Sinto-me presa, trancafiada e esquecida.
Ou seria mais apropriado usar o termo:
Completamente ensandecida?

Como sinto falta das noites em Wonderland...
Da interminável Hora do Chá!
Do meu insano e sensato companheiro Chapeleiro.
Quão são deprimentes os dias nos quais não estou em meu paraíso
Tantas vezes lido e revisitado 
Alucinadamente...

Se eu tivesse a escolha de permanecer num mundo só meu,
Viveria eternamente nesse mundo Nonsense!
Nesse mundo tão meu...
Ah, Alice, eu seria apenas você,
Minha pequena hiperativa, rebelde e atrevida,
Porém, incansavelmente Feliz e
Irremediavelmente Louca, Louquinha...


(Renata Nunes)








segunda-feira, 9 de maio de 2016

Desejo...

Dormirei com as Luas abertas,
Abrindo-se em mínguas,
Novas, cheias...
Dormirei com o Sol desperto,
Desabrindo em clamores,
Fulgores, amores...

Portas são janelas que sucumbem
À ousadia de quererem se fechar...
Janelas são portas que, obstinadas,
Teimam em recriar o mundo,
Na ânsia impetuosa dum futuro:

Incerto... Deserto? (...)

Não, não adormecerei até que Lua e Sol colidam,
Até sentir meus olhos queimando,
Meu corpo estremecendo,
Minh'alma entorpecendo e raiando
Com a magnitude desse impacto:

Profundo... Vazio? (...)

Dentro e fora,
Das tantas portas e janelas,
Que seja sentido a densidade infinita do Universo
Conspirando a favor de nossos anseios
- Desejos sorrateiros, pecados proibidos -
Que as estrelas desabem sem arrefecer,
Que brilhem incessantemente até tudo virar pó!
E, quando em cinza me transmutar,
Talvez adormeça...
Talvez encontre uma nova portela...

Pois deve haver um outro mundo,
Uma nova existência, uma nova Era,
Por detrás de tantas luas e sóis,
Assim, como Nós,
Separados por ciências anti-naturais
Mas que insistem em reger tempo e espaço,
Agindo como semi-deuses,
Com o fim de dominar a geografia da Terra,
Para, enfim, colidir entre lençóis.

Realidades nascem de sonhos
Despertos... Palpáveis...

Que minha sede não seja saciável,
Que o desejo me guie,
Me transforme, mas não me cure
Da insanidade - essa doce loucura...
E que jamais, nunca mais amanheça,
Se, por um grão de segundo,
Eu não mais acreditar
Que tudo é e sempre será:
Possível!


(Renata Nunes e Di Afonso)







quinta-feira, 14 de abril de 2016

Ir embora de você...

Ir embora de você
É como não ir a lugar nenhum;
Ainda assim, vou.
Senão, eu morro de ausência,
E essa é a pior morte.

Ir embora de você
É como navegar sem rumo;
Ainda assim, percorro horizontes esboçados.
Senão, serei náufrago de mim,
E essa morte asfixia sonhos não alcançados.
(Repressão por Afogamento...)

Ir embora de você
Seria como decolar sem pouso;
Ainda assim, voo.
Senão, converto-me em turbulência,
E mato uma tripulação composta de "Eus".
(Desregrados de Conduta a Bordo...)

Ir embora de você
Seria como partir em caravana sem ninguém;
Ainda assim, começo esta lenta jornada.
E mato sentimentos com pés descalços.
(Esfolados de tanto caminhar...)

Ir embora de você...
- Nua, Abandonada, na Rua -
Ir embora de você...
- Desalmada, Aniquilada, Desarmada -
Ir embora de você...
Como? Tão Tua!
Seria como carregar uma alma mal'amada;
Ainda assim, me doo.
Senão, eu morro
D'uma morte mal matada, corrompida,
Não correspondida...
E essa é a pior morte?
Ou talvez Ela
Simbolizaria, enfim, minha maior e mais digna sorte?
...


(Renata Nunes & Di Afonso)









quarta-feira, 30 de março de 2016

Beba-me!


Beba-me!
E mata tua sede d'amor.
Ou Coma-me!
Para satisfaz tua fome d'ardor...

Mas antes de escolher,
Pense sobre o que pode colher,
E se é capaz de suportar...
Ou, ao menos, ter força para peregrinar,
Caso contrário, pode se arrepender...

Entretanto, Não temas!
Posso destruir-te,
Consumir-te
E esbaldar-me em teu tremor.

Aconselho-te a não desperdiçar,
A absorver cada gotícula,
A aspirar todos os meus cheiros,
Na ganância do ter-me!

E, ainda, se for capaz,
COMA-ME e BEBA-ME!
Duma só vez.
Seja uma criancinha perspicaz,
Ou abstenha-se!
Sofro do imediatismo exacerbado,
Da cobiça descontrolada,
Da aflição arrebatadora d'alma,
Do, Agora, Eu quero TUDO ou nunca mais!
Vá em frente:
Lamba-me, Traga-me, Engole-me!
Apenas lembra-te:
Venha com a ânsia de me afrontar,
Dum Faz-me agonizar...
Ah, mas não esquece:
É, peremptoriamente proibido, se Apaixonar!



(Renata Nunes)







terça-feira, 29 de março de 2016

Ices...


Não, minha pequenina utopista,
 Nós é que somos alvo da incompreensão mundial,
Duma realidade cruel, amarga e golpista
O que esperar, minha revolucionária insolente,
Desta Terra demente e desigual?

Confuso é não ter as respostas,
Das tantas perguntas previamente propostas...

"Quem és tu?" 

Confuso é ter um futuro incerto,
Diante da obscuridade da queda em que desperto...

"Alice certa ou Alice errada?"

Confuso é não ter a normalidade nas veias,
E lidar com esta referida "sanidade" inserida em mentes ignorantes como teias...

"Quem és tu?"

Confuso é ter que sobreviver em meio à desleal necessidade do mundo ao qual não pertenço,
E, ainda, Viver sendo as duas:
A certa e a errada,
A equilibrada e a insana, louca, desvairada...

Pois Eu decreto e declaro
- Minha atrevida, doce e audaciosa ALICE -
   És a ventura almejada,
O encanto arraigado,
O devaneio jamais decifrado,
O arrebatamento mais desaforado;
Enfim, a sorte não anunciada de ter nascido
Pequenina num só corpo,
Mas ser gigante por ter o espírito tomado
Dessas tantas e estonteantes "ICES"...


(Renata Nunes)



sexta-feira, 18 de março de 2016

Do Agreste ao Litoral.

Adormeci como quem arrefece,
Diante duma Saudade denominada
Agreste.
Numa angústia redobrada pelo tempo,
Tentei, desesperadamente, encontrar a razão do meu surreal desejo.
A ânsia febril que meu corpo revestia,
Desencarcerou uma alma intempestiva e sedenta,
À procura do alguém que há tempos
- noutro plano -
Encantadoramente, me seduzia. 
Em êxtase, notei que a distância não mais existia.
A sofreguidão nos desnudou e a excitação me transbordou.
Em tempos de seca,
Uma enxurrada só pode ser sinônimo de profusão!
A secura e esterilidade do Agreste
Deu lugar a campos florescendo,
A férteis corpos deslizando,
Num oceano de cobiça por beijos
Colados, custosos, chupados...
Nossos seios...
Peles coladas num mar de voluptuosidade,
Corpos insanos e incansáveis num deleite d'amor. 
Estou desvairada,
Fascinada por ter o prazer de viver você.
És meu contentamento,
Minha luxúria
E meu maior anseio.
A fruição do auge do desejo!
É indescritível existir em você,
Me jogar trêmula em teu abraço
E nos sentir regozijar
Neste supremo ato de desfrute do fluir
- Na verdadeira Arte de, em ti, Amar - 

(Renata Nunes)

quinta-feira, 17 de março de 2016

Hey, Alice...



O tempo acabou,
É hora de voltar!
Salvar o Chapeleiro ou, enfim, me libertar?
O que eu enxergo através do espelho?
Dois mundos...
Não estou aqui, nem lá.
Tick, tock,
Chegou o momento da escolha.
Tick, tock,
É tarde! Ouço meu nome,
Tick, tock,
Não tenho tempo a perder!

...

Hey, Alice...

...

A qual mundo, de fato, pertenço?
Planeta Terra?
Não, não há Wonderland nesta imunda atmosfera!
Costuma-se dizer que o "jardim do vizinho" é sempre mais verde...
Ora, a questão não é esta!
A indagação se torna:
Quem és tu quando retornas?
Sim, meu destino,
Um desatino sem lei,
Regressar a um país onde a loucura não tem voz nem vez...

...

Hey, Alice...

...

É preferível cair...
E nessa livre queda, voar para te encontrar.
Quem imaginou que em meu mundo não há sofrimento,
A si próprio enganou.
É preciso encarar o tabuleiro
Para te salvar, meu Nobre e Bibolar Chapeleiro.
Pois, em meu mundo, os "palhaços" são fieis escudeiros.
E por você,
Meu Tresloucado Companheiro,
Hei de deflagar uma verdadeira guerra,
Com o único intuito de nos libertar .
Onde nosso próprio algoz, o Tempo, nos levará para bem longe desta ruína chamada:
Planeta Terra!
E apenas Ele, o Tempo, é capaz de nos aprisionar
Em nossa Pacífica e Eterna 
Hora do Chá!

...

Hey, Alice...
Amar-te-ei,
Ensandecidamente,
Enquanto este sonho durar!

(Renata Nunes)